Série Kairoseki - Katana

(Parte 2)

Por COMENTÁRIOS

Olá, meus queridos nakamas. Voltamos com a segunda parte do artigo sobre Katanas aqui na Série Kairoseki. Na parte 1, vimos qual são os aços utilizados para fabricação de uma espada e porque é importante ter diferentes teores de carbono nesse material. Agora, veremos porque o processamento é importante para garantir que uma katana seja capaz de cortar até mesmo o mais duro dos materiais!

Caso você chegou aqui sem entender do que se trata essa série, sugiro fortemente que leia o primeiro artigo publicado. Caso não o faça, não há problema, pois certamente entenderá esse conteúdo.

A wado ichimonji pode dobrar?

Eita lá! Espero que não, porque isso seria um problema e tanto para o Zoro. De qualquer forma, o processo de dobragem é o que garantiu a Wado Ichimonji ser o que ele é. Por que digo isso? Vamos lá.

No artigo anterior, vimos que aços diferentes garantem a resistência da espada. Isso não é tudo, porque como ela produzida também é importante. A partir de uma seleção adequada de aços, em que aços de baixo carbono garantem a tenacidade e os de alto carbono garantem o fio de corte, é preciso dar formato à espada.

Para isso, se utiliza do processo de forjamento, que pode esquematizado simplificadamente como processo de aquecimento, dobramento e martelamento de chapas metálicas. Obviamente, o processo é mais complexo que isso, mas, no caso das katanas, o descreve bem. Para produzi-las, incialmente, aços de baixo carbono e de alto carbono (macios e duros, respectivamente) são forjados separadamente. Durante o processamento por forja, impurezas são eliminadas, o que garantem resistência mecânica e contra a corrosão dos metais. Posteriormente, esses aços são unidos e voltam a ser forjados. Com isso, uma espada pode ter mais de 65000 camadas.

Esse processo de dobra com dois tipos de aços garantem parte da resistência mecânica por três motivos. O primeiro deles é pelo encruamento, que, em poucas palavras, é processo que aumenta o número de discordâncias no aço por meio da deformação plástica. Como vimos anteriormente, a falta de mobilidade de discordâncias aumenta a dureza do aço, e o acréscimo de seu número tem justamente esse efeito. O segundo deles é por criar diversas camadas de materiais com propriedades diferentes. Devido a isso, o material tem uma maior tenacidade, ou seja, capacidade de receber um impacto sem deformar, visto que a energia do impacto é absorvida pelas camadas macias, o que previne que as camadas duras trinquem e quebrem. O terceiro, como já mencionado, está relacionado a impurezas, que, por possuírem composição química e propriedades bastante diferentes dos aços, causam enfraquecimento da espada.

A Wado Ichimonji pode ser queimada?

Já vimos o Zoro cortar muita coisa, até mesmo os inimigos mais quentes. Mas, mesmo assim, nunca a vimos em chamas, o que é uma sorte. Pelo incrível que pareça, temperaturas altas, principalmente acimas de 700°C, são nocivas à integridade das propriedades do aço.

Os motivos são vários, mas falarei sobre aquele que afeta o tratamento térmico do material. Após o forjamento, são dispostas na superfície das lâminas camadas de argila com diferentes espessuras. Onde é para ter o fio, não há argila; já no lado oposto é onde tem a camada mais espessa. A argila, nesse caso, atua como um isolante térmico, o que retarda tanto o aquecimento quanto o resfriamento da lâmina no tratamento térmico. Isso faz com que as katanas tenham um corpo macio e uma borda dura. E por que isso ocorre?

Existem diferentes tratamentos térmicos, mas todos consistem em aquecer o material e resfria-lo numa certa taxa de resfriamento. Um dos tratamentos térmicos mais conhecido, e que é usado em espadas europeias e também em katanas, é a têmpera, em que ocorre um resfriamento muito rápido. No entanto, nas katanas, por ter as camadas de argila, diferentes taxas de aquecimento são atingidas quando lâmina é colocada em água ou em óleo, o que resulta em diferentes microestruturas. É como se diferentes tratamentos térmicos ocorressem simultaneamente.

No resfriamento mais rápido, ou seja, na têmpera, os carbonos se posicionam entre os átomos de ferro do aço. Em vez do carbono ocupar um espaço vazio, ele se posiciona justamente onde ele não cabe. Dessa forma, ele acaba por distorcer ainda mais a organização dos átomos, o que cria tensões internas. As tensões internas dificultam o movimento das discordâncias e, como já sabemos, a deformação plástica (ou capacidade de causar uma deformação permanente no material). Assim, quanto mais rápido o resfriamento, mais duro.

E as vezes, essa dureza é alta demais, o que, pelo incrível que pareça, não é bom; como já foi dito: o aço se torna frágil. Dessa forma, o aço tem que ser revenido, ou seja, aquecido numa temperatura não tão alta e resfriado lentamente. Assim, parte dos carbonos se posicionam onde cabem melhor e diminuem as tensões internas.

E é justamente aí que está o perigo de uma katana, e qualquer outro aço, ser aquecido a altas temperaturas. Caso a temperatura seja a mesma usada para fazer um tratamento térmico, é isso que vai ocorrer. Suponhamos que o Zoro deixe a Wado Ichimonji cair no mesmo caldeirão que Oden enfrentou. Ela atingiria altíssimas temperaturas. Se o processo de resfriamento for feito da mesma forma que o ferreiro fez, não tem problema; se ela resfriar a temperatura ambiente, ela será mole, sem capacidade de pegar fio e com alta capacidade de se entortar. Então, Zoro, não taca fogo na tua espada!

Então é só selecionar o material, forjar e tratar termicamente para fazer a Wado Ichimonji?

Não, meu povo, claro que não. Existe diferentes etapas do processo que vão além da Engenharia de Materiais. Ainda é necessário dar a forma final, fazer os acabamentos, polir, afiar e assim vai. Todas essas etapas são essenciais e não podem ser feitas senão da melhor forma possível. Mas, com tudo isso finalizado, temos uma katana pronta. O que faz dela uma Wado Ichimonji ou uma katana qualquer é justamente como isso tudo é feito; está nas minucias do processo a excelência. Não é à toa que Wado Ichimonji só existe uma.

É, meu povo, o processo é complexo, mas é necessário. Esses conhecimentos trazidos nas duas partes desse artigo são amplamente utilizados em toda a indústria que se utiliza do aço e de metais como matéria-prima ou produto final. Por ser uma tecnologia que começou a ser desenvolvida a mais de um século e gerar bilhões em movimentação financeira, o conhecimento sobre aços e seu processamento é muito vasto. O que eu trago aqui é algo muito específico e simplificado e, por isso, os encorajo a procurar por mais material para melhor compreender como uma katana é produzida.
Dito isso, nos encontramos em breve! Até mais.

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