Reverie OPEX #40

Como o Oda retrata o romance em One Piece

Por COMENTÁRIOS

E aí, queridos! Chegamos ao Reverie OPEX de número 40!! Como já explicado antes, todos os Reveries de número cheio terão assuntos um pouco diferentes do habitual. Primeiro veio o de amizade em OP, que deveria ter sido o 10, mas que acabou sendo o 9 hahaha! Em seguida foi o texto sobre o Fandom, e o 30 foi sobre dragões em One Piece!

Dessa vez resolvi falar do romance no ar, aquilo que faz a gente suspirar aleatoriamente e dar sorrisos bobos. Ah…o amor! Pera, não é bem esse tipo de romance que o Oda faz…Oxe, bora falar das diferenças de romances e como o Oda desenvolve esse item, que querendo ou não, é importante sim!

              Na SBS do volume 34, Oda fala que os mugiwaras não vão se apaixonar entre si, eles vão se apaixonar pela aventura! Agora, fora do grupo é outra história xD

Antes de falar especificamente de One Piece, é preciso contextualizar o gênero romance nos mangás, e diferenciar o joio do trigo! Na época que eu estava na Um Pedaço, fiz um texto mais básico falando sobre essas diferenças, mas a ideia aqui é reforçar essas informações e também mostrar como o romance faz parte também das discussões dentro do fandom.

Assim como dito no texto linkado, todos os fãs precisam separar demografia e gênero nos mangás japoneses. Diversos sites e canais no Youtube dedicados aos animês e mangás explicam as diferenças entre shonen, shojo, seinen, etc, e também explicam que esses termos na verdade não são gêneros, e sim demografias (há também o termo gênero demográfico, por isso alguns mangás recebem o selo de gênero shonen em sites estrangeiros). Isso muda o nosso jeito de ver os quadrinhos japoneses.

Não quero me alongar muito nesse assunto, mas pensem nessas demografias como “faixa-etárias”, pois ficam bem mais fáceis de serem entendidas. Todas as categorias de revistas de quadrinhos no Japão têm bastante diversidade de enredos e gêneros. Quando falo da faixa-etária, as categorias existem apenas para dividir alguns padrões, como ocorre na linha editorial de livros, com a existência de literatura juvenil, jovem-adulto, literatura clássica, entre outros. Mas isso não significa que esse padrão é seguido à risca. One Piece mesmo, apesar de ser um mangá de uma revista para garotos entre 11 e 17 anos, a maioria dos leitores de One Piece tem mais de 18 anos.

         Esses dados são referentes à 2013, hoje esse cenário deve ser um pouco diferente, mas ainda com tendência ao pessoal mais velho.

Um mangá shojo, por exemplo, não precisa necessariamente mostrar apenas o desenvolvimento romântico entre uma mulher e um homem, e nem necessariamente ter como protagonista uma mulher, há casos em que é o homem (apesar de ser a minoria assim). Da mesma forma que nem sempre um mangá seinen é extremamente adulto, com traços mais realistas e mais violento/explícito. Quando fazemos distinções de demografias dessa forma, caímos no erro de achar que só há uma via para cada uma, e não é bem assim.

Nana, por exemplo, é confundido constantemente como um mangá josei, pois tem uma temática mais pesada e séria. Porém, Nana foi lançado numa revista shojo bem famosa (a Cookie) e por isso precisa ser entendida como um mangá shojo (mesmo que sua temática fosse aceita tranquilamente numa revista josei). Além disso, o tema, apesar de abordar relacionamentos amorosos entre mulheres e homens, o plot central é a amizade entre as duas protagonistas. Há também K-ON, que é um mangá com traços mega fofos, e foi lançado numa revista seinen.

Não há exatamente um padrão estabelecido de gêneros, temas e assuntos, entendem? Tudo depende do fôlego da história, negociações, confiança dos editores com a história, entre tantas outras situações. Orange, por exemplo, foi um mangá que começou numa revista shojo, foi cancelada, e retornou numa revista seinen, com todos os mesmos artifícios da história. Quem ler a história, vai na hora dizer que é shojo, mas não, ela foi shojo, porém se tornou seinen, mudando o público-alvo. No fim, a dica é: nunca julguem um mangá pelo traço ou temática e o joguem numa demografia sem saber ao certo, pois na verdade, hoje em dia, tudo pode ser shonen, shojo, seinen, josei etc etc.

      A história é espetacular, pena que a Ai Yazawa não termina essa desgrama! 

Já me alonguei muito ahuehuae, mas é por essas e outras que há muitas confusões quando há um debate sobre romance em One Piece e SEMPRE tem alguém que fala: “One Piece é shonen, não é romance!” A gente precisa separar a temática com a demografia urgentemente nesse caso!

São duas discussões que precisam ser feitas aqui. Uma delas é que shonen não tem romance, e a outra é de como o romance é visto nos mangás shonens! E tem aí a terceira via que é como o Oda faz o romance dele.

Bem, primeiramente a gente precisa desmistificar essa questão de que shonen não tem romance. Assim como falado acima, as demografias não são gêneros, então o shonen por si só apenas significa que são mangás mais voltados para garotos, mas até mesmo isso é questionável, pois as mulheres tem lido mais shonens ultimamente (mas esse é outro assunto que rende um textão haha).

Quero ver Robin e Nami mais badass também, pois eu sou mulher e leio shonen! ò.ó

O shonen tanto tem romance que há uma temática dentro da Jump que explora justamente isso! Não só a Jump, como todas as outras revistas de shonen têm em sua jornada, mangás mais voltados ao romance. Por isso, NÃO, Love Hina não é shojo, é shonen! Inu Yasha é shonen, I’’s é shonen, Video Girl Ai é shonen, Nisekoi é shonen, 100% Ichigo é shonen e assim por diante. Todos eles possuem romance como um dos gêneros centrais da história.

Outra coisa, um mangá não é feito de apenas um gênero! One Piece mesmo tem aventura, batalha, comédia, drama, entre outros. Se formos pegar outros mangás shonen que competiam com One Piece até então, o romance é ainda mais presente! Naruto, Bleach, Fairy Tail, Boku no Hero! Até Dragon Ball Super explora um pouco de romance! O que é necessário pesar nessa discussão é que o formato do romance nesses shonen é diferente de um romance de uma história slice of life, escolar e dramática.

            Ai que história tocante e maravilhosa. “ASSISTÃO” O FILME E COMPREM O MANGÁ DA NEWPOP!!!11!!ONZE!!!!

Koe no Katachi (um shonen feito por uma mulher, por sinal), por exemplo, tem claramente toques de romance no meio da história. São toques sutis, mas que fazem a diferença. Mas o gênero central é drama com papel de conscientização social perante a um problema muito sério no Japão: bullying e suicídio. É claro que o tom do romance nessa história vai ser completamente diferente do tom de um romance inserido num mangá de luta e comédia! O que o fandom inteiro de One Piece precisa entender é essas diferenças e também perceber que em One Piece há toques bem sutis de romance também.

Praticamente qualquer mangá tem uma demonstração de afeto e importância no quesito relacionamento. Esse relacionamento não precisa configurar a demonstração física do afeto, e nem ser intitulado como um relacionamento OFICIAL amoroso. Exemplos sempre funcionam melhor. Rurouni Kenshin e Yu Yu Hakusho sempre tiveram o foco nas lutas, com pitadas de drama e aventura. A Keiko teve de beijar o Yusuke para ele voltar à vida logo no segundo volume, e foi bem explícito de que foi um beijo sincero e com sentimentos. Ambos não oficializaram um namoro, e nem o Togashi centralizou a história nisso, mas desde o início foi deixado claro que eles se gostavam e no final ficariam juntos. A mesma coisa com RK. Kaoru e Kenshin se gostavam muito antes do mangá acabar, e só na última saga há uma demonstração mais clara, e eles se casam e até fazem um filhinho.

          Aquele casal que você respeita! Inclusive, a esposa do Watsuki se chama Kaoru. Coincidência? xD E ela é SENSACIONAL, galera!!!

Mas, um exemplo que eu acho muito bom é o próprio Fullmetal Alchemist! Além de ser feito por uma visão feminina (Arakawa meu amor <3), o tom do romance é um pouco diferente do tom que o Togashi e o Watsuki fazem! Há uma demonstração maior de sentimentos e de preocupação, como caso entre Roy e Liza, e há uma declaração mais transparente também entre o Edward e a Winry. Isso também conta demais! A forma em que as mulheres criam mangás é diferente dos homens! Por isso a temática romance abordada nos shojos destoam tanto, pois a visão feminina é diferente da masculina!

Ufa! Essa contextualização toda foi necessária para mostrar diversidade de títulos e exemplo de que sim, shonen tem romance, sim, não é porque a temática central é lutas e aventura, que o romance não existe! Quanto mais fundo um leitor for em uma demografia, mais ele verá a diversidade de assuntos possíveis! Existe de tudo em todas as demografias! Quanto mais um fã querer limitar gêneros em uma demografia, mais ele vai quebrar a cara hahaha!

E por isso, sim, assim como qualquer outro shonen, One Piece tem uma abertura para romance! Eu me recordo demais quando participava ativamente de discussões antigamente e sempre rolava um debate de que o romance estragaria One Piece. Nunca entendi que tipo de romance as pessoas pensavam, mas a única coisa que sei é que o Oda vem colocando cada vez mais romance na história! E não vejo o nível cair.

Parando para pensar, desde o início do mangá é possível visualizar a existência de sentimentos entre personagens. Kaya, ainda na saga do Usopp, demonstra que gosta dele, e isso é reforçado pelo Oda numa história de capa, em que há muitos pretendentes querendo namorá-la e ela não tá nem aí porque está esperando o Usopp mesmo, e preocupada em se tornar uma boa médica. Ou seja, esse é um casal que muito provavelmente irá vingar.

Mais para frente, tem como nos identificarmos com o passado da Vivi, que era muito próxima do Khoza, e atualmente eles também estão ainda até próximos. Assim como eu torço e visualizo muito que a Nami e a Vivi se ajudavam demais e se consideravam demais. Me atrevo a dizer que a Nami teve uma aproximação mais íntima com a Vivi do que agora com a Robin. Então, sim, para mim a Nami e a Vivi se curtiam e fim. São interpretações de cada fã.

Em Thriller Bark a gente tem dois casos: Hogback e sua possessividade com a Cindry e a Lola querendo casar de todo jeito com o Absalom. Nessa mesma saga, inclusive, a Nami se vestiu de noiva por causa das loucuras do Absalom de achá-la linda e querer uma esposa. Se isso não tem nada a ver com demonstrações de sentimentos ou a simples existência deles, eu não sei o que é. Mesmo que sejam alívios cômicos ou algum tipo de crítica, é uma forma que o Oda retrata sentimentos.

Em Amazon Lily temos a Hancock se apaixonando pelo Luffy, nem preciso falar muito mais que isso, né? Eu até acho que essa paixonite toda fez um pouco mal para ela, mas ainda assim, é um retrato importante.

Mas o que mudou mais foi o retorno do bando depois dos dois anos. Logo nas histórias de capa, vemos a Makino com um filhinho, ou seja, esse filho tem pai e esse pai se relacionou com a Makino. Aí vem Dressrosa, com o Sanji e a Violet, que até hoje se discute se beijaram ou não. Na mesma saga tivemos o início do namoro de Baby 5 e Sai, além da história do Sênior Pink e o relacionamento esquisito entre Violet e Doflamingo. E quem é que não shippa Koala com o Sabo? Rapaz, é tanta fanart deles já que não há mal algum pensar nos dois sendo um casal, até fazer sentido faz! Só em uma saga, aconteceu isso tudo, mas ainda tem um relacionamento melhor nisso tudo!!!

Kyros e Scarlet se apaixonaram, tiveram a Rebecca, sofreram na mão da família Donquixote e toda a angústia do Kyros é desenvolvida pelo Oda. A perda da sua esposa, de saber que ela morreu sem lembrar dele, pois ele já havia se tornado brinquedo. De tocá-la com a mão de brinquedo, fria e sem vida no corpo da Scarlet. De ter que cuidar da filha pequena mesmo ela não sabendo que era seu pai! Se tudo isso não é demonstração de afeto e que não há nenhuma amostra de romance, eu também não sei o que é.

Em Zou até o Chopper ficou todo abobalhado depois de conhecer uma Mink! Ele enrubesceu, gente!!! Ele é um adolescente com hormônios também, ele se interessar por uma Mink faz todo sentido biológico, como diria Átila!

E recentemente em Whole Cake também temos dois grandes exemplos: Capone e Chiffon, que são marido e mulher e pais! E a própria Purin toda tsundere com o Sanji! O modo de falar com Sanji, de ficar toda envergonhada, de estar aceitando todos esses sentimentos! Claramente o Oda tem dado mais espaço para o romance, para falar que existe sim relacionamento entre pessoas, que personagens se amam, demonstram carinho! É impossível negar esses artifícios na história!

     Ao menos serão dois cozinheiros juntos hahaha

Ainda não estou contando coisas do passado, como Roger e Rouge e Otohime e Neptune, mas qualquer coisa de flashback pode ser levado em conta.

Só temos que separar um romance escolar de um romance de um mangá de lutinha. Temos que separar um romance sofrido de um drama de um romance voltado para comédia e ecchi! Mas existem diversas formas de demonstrar esse tipo de temática em um mangá!

Mudando um pouco o recorte, é justamente por causa dessas brechas do Oda que o fandom discute SIM e expressa SIM o que ele pensa. Existem milhares de fãs que gostam e torcem para que a Nami e o Sanji fiquem juntos, mesmo o Oda dizendo que dentro do bando eles são como uma família e todos amam o mar. Mesmo assim as pessoas têm a liberdade de expressar a criatividade, seja por meio de fanarts ou fanfics, de diferentes personagens juntos. É preciso parar de pensar que a torcida por casais se resume a frescura, coisa de menina e coisa que nada tem a ver com a história! Pensar em romance e tentar discutir como isso pode surgir não é diferente em porcaria nenhuma de uma teoria sobre a Uranus, ou sobre Vegapunk, Caesar Mugiwara…A questão não é acertar, os fãs nem ligam se vão errar, a ideia é tentar expressar uma ideia que surgiu na cabeça devido a algo que leu e viu no mangá/anime! O lance não é ver se estão argumentando lindamente ou não, mas o fato é que o fandom cria TODO tipo de coisa da cabeça! Pode tanto ter uma base argumentativa maravilhosa (os shippadores de ZoSan conseguem haha) ou não ter base alguma e ser uma simples vontade!

Desde a década de 1970, com o surgimento de Star Trek e Star Wars, os fandons criam e expressam o lado romântico¹ dos personagens! Ou seja, o romance NUNCA será descartado em história alguma! Não é diferente com os mangás e nem é diferente da realidade japonesa! Até Haikyuu, que é um mangá inteiramente de esporte (vôlei), as pessoas desenham e criam histórias românticas entre os personagens. E tem casal yaoi sim, casal yuri sim, tem casal hétero também, esse tipo de coisa não vai morrer porque tem uma parcela do fandom que não gosta.

     Claro que a quantidade de ship yaoi é muito maior! Só procurar Haikyuu no Google que aparece. Sejam felizes o>

É totalmente plausível um não querer mais que o Oda explore tanto o romance, seja porque vai desviar um pouco do plot central da história, seja por considerar o romance um artifício importante e que precisa de desenvolvimento, o que claramente o Oda não vai fazer muito. Mas isso é totalmente diferente de não respeitar a parte do fandom que discute romance, e também de não entender que todo fandom tem suas divisões! Vai ter gente que gosta de falar do mangá, vai ter gente que vai querer teorizar, gente que prefere falar dos níveis de poderes, gente que prefere se expressar por meio de vídeo, texto, ilustrações

De novo, quanto mais rotularmos o romance e o drama sentimental/emocional como tipos inferiores de enredos, mais estaremos limitando a magnitude e o poder que esses gêneros podem tomar dentro de uma história. Qualquer ser humano sente coisas, pode ser sofrimento, pode ser felicidade, pode ser amor, pode ser admiração, enfim!

E vai ter ship sim! OLHA ESSAS DUAS MARAVILHOSAS JUNTASSS AAA!

Da mesma forma que um mangaká pode fazer uma ficção totalmente distante do nosso universo, esse mesmo mangaká pode se inspirar na própria família e em culturas diferentes para demonstrar sentimentos diversos. Ou seja, não importa o quão oposto One Piece seja do nosso mundo, ainda assim as ações dos personagens podem ser parecidas com a nossa. E nós temos sentimentos, nós amamos, casamos, temos filhos, nós demonstramos afeto, nós choramos, nós sofremos, nós nos estressamos. É muita coisa que nós mesmos passamos, mas ainda temos dificuldade de aceitar dentro de uma revistinha chinesa que o amor pode acontecer de diferentes formas. Estou me colocando junto porque faço parte do fandom, e é todo o fandom que tem que quebrar essa barreira!

Não entendam isso como uma bronca não, é só uma forma de poder expressar que a EMPATIA ainda tem de andar conosco! E todos os dias. Enfim, é isso! A gente se vê na próxima semana.

¹: Deem uma olhada no livro “Invasores do Texto” de Henry Jenkins, que ele explica o nascimento da cultura fã nos Estados Unidos e fala um pouquinho do Japão. Tem no Brasil e foi lançado pela Marsupial. No livro da Cultura da Convergência e Cultura da Conexão, o Jenkins fala mais dos mangás também. 

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