Formação dos Piratas Spade

Capítulo 3 - Página 70

“Não, você está errado. Eu não coloquei as crianças em perigo. Você é que fez isso, Ace,” Dorrow rosnou em sua voz grave. “Isso somente aconteceu porque haviam piratas por aqui! Você entende isso, Ace? As crianças sofreram porque você estava aqui. Eu estou apenas fazendo o meu trabalho – capturando piratas – da melhor maneira possível. Mas você não pode dizer o mesmo. Você não deveria estar vivo. Sua existência faz com que pessoas que não cometeram mal algum vivam com medo. Você deve aceitar isso.

Ace se calou. Sua resistência começou a diminuir. A sombra que passou brevemente por seus traços não fez a menor falta.

“Maluco… miserável!” gritei, e logo entrei em outro ataque de tosse. Ainda não tinha forças para me levantar. “Não o escute…, Ace! Ele está… errado!”

Mas a voz poderosa de Dorrow sobrepujou a minha. “Se não fosse por você, ninguém teria esse infortúnio. Estou errado? Se não fossem os piratas, eu não teria razão alguma para sair por aí incendiando as coisas.”

Ace havia desistido de lutar. Sua própria vida estava por um fio neste momento.

“Isso… não é verdade… é? Vice-Almirante?” Isuka disse, de repente. Ela havia voltado, depois de ajudar as crianças a escapar. “Eu pensei que tivessem sido os piratas… que incendiaram o meu vilarejo…” Lágrimas cobriam seus olhos. “E então… você… me salvou…”

“É claro que eu vou salvar uma criança ferida bem diante dos meus olhos. Afinal das contas, estou do lado da Justiça.”

“Então, meus pais…”

“Do que você está falando, Segunda-Tenente Isuka? Alguns sacrifícios são necessários para executar adequadamente a Justiça. Você sabe que isso é verdade. Por que você ficaria tão preocupada com a perda de uns civis aqui e ali?”

Isuka desabou. Ela colocou a mão em sua boca, lutando para segurar seus gritos. Lágrimas escorriam pela sua face. Para Dorrow, eles eram apenas sacrifícios sem sentido, mas, para Isuka, era a perda de seus pais e da vila onde foi criada. Foi um fim cruel e irônico para a imagem brilhante de Justiça que ela passou a professar desde aquele traumático incidente em sua infância.

Com o choro de Isuka em meus ouvidos, coloquei-me de pé com uma raiva silenciosa. “Dorrow… é o seu nome? Se eu fosse você, não deixaria o Ace tão bravo.”

Cuspi o sangue que se acumulava em minha boca. As chamas começavam novamente a ressurgir do corpo do Ace. Uma força voltou para os seus olhos.

“O que você quer dizer? Eu já te disse, chamas fracas assim não significam nada para…”

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