Reverie OPEX #19

Desculpe, mas preciso falar do “fenômeno Eiichiro Oda”

Por Pah~ 25 de março de 2017 COMENTÁRIOS

Olá, gente, mais um Reverie OPEX fresquinho aqui no site. Tava na hora de falar um pouco do Oda e sua carreira de sucesso, se tornando uma referência e modelo para mangakás mais jovens que querem criar suas histórias na Shonen Jump!

Lá no Reverie #9 (sobre amizade), teve um trechinho que falei de quando Nobuhiro Watsuki veio ao Brasil e deu uma coletiva de imprensa e uma palestra no ano de 2015. E desde então venho querendo falar sobre a trajetória do Oda e de como ele consegue conquistar diferentes públicos ao longo de quase duas décadas de One Piece. E agora, tá na hora de falar dele.  

Pois bem, é muita informação para dizer aqui, e não tenho a intenção de fazer toda uma biografia de Eiichiro Oda, portanto, vou deixar linkado aqui um site com algumas informações básicas para quem tiver interesse e também dois OPEXcasts, um dedicado ao Oda e outro do Databook Blue.

Só clicar na imagem para ir direto para o OPEXcast o>

Eu sou uma grande admiradora do Oda, não só por nos trazer uma história fantástica como One Piece, mas por ter feito uma diferença enorme em uma época conturbada da Shonen Jump e ser um mangaká que renovou a revista e deu fôlego para novos criadores/autores de mangá. Apesar do Japão ter várias restrições quanto à informações pessoais de mangakás (por questão de privacidade mesmo), mesmo assim tem algumas formas de obter essas informações haha! Sobre essa importância do Oda, pude entender através da boca de Nobuhiro Watsuki, autor de Rurouni Kenshin e mestre do Oda quando ele tinha apenas 19 anos.

Obs: RK foi um sucesso tremendo no Japão (aqui no Brasil também porque passou na TV Globo). Além da história original, saiu mais uma história extra do Yahiko (A Sakabatou de Yahiko), mais um mangá da versão do autor de RK, com duas edições, e agora o Watsuki está planejando a história do Shishio, um dos vilões do mangá.

Oda ganhou em segundo lugar o prêmio do Tezuka Awards com Wanted, mangá publicado aqui no Brasil pela Panini. E a partir daí, se tornou assistente de vários artistas, incluindo Watsuki. Esses dois se tornaram amigos de longa data, e Oda já deu alguns presentes pro Watsuki que até hoje ele não entende bem. Na palestra aqui no Brasil ele chegou a mostrar uma foto de algumas figures/estátuas de robô que o Oda deu. Enfim, conhecer esse grande autor foi uma das experiências mais inéditas e agregadoras que eu já tive. Naquele fatídico dia eu perguntei ao Watsuki o que ele aprendeu de tão importante com Takeshi Obata¹ (que foi seu mestre) que influenciou em toda sua carreira, e depois, quando de fato se tornou mangaká, o que pode passar para seus assistentes na época de Rurouni Kenshin (Oda e o Takei²). Após essa pergunta, fiz um gancho, perguntando também se ele se orgulhava de ter tido a possibilidade de trabalhar e de certa forma ensinar dois grandes autores que fizeram a diferença depois dele, principalmente o Oda.

      Viu? Não é mentira. Watsuki fez esse apresentação no Centro Cultural de São Paulo! E esses são os presentes do Oda xD

A resposta foi absolutamente reveladora para mim. Referente ao Oda, primeiro ele falou que se sente muito feliz de ver que Oda conseguiu levar o legado de seus veteranos adiante, não só chegando no mesmo nível, mas ultrapassando todos eles. É como se fosse um sentimento de dever cumprido. E aí ele continuou, dizendo que hoje é praticamente impossível rivalizar com o Oda de tão único e incrível que ele é, tanto em quesito traço próprio (importante dizer aqui que Oda também tem assistentes³) quanto carisma que ele expressa em One Piece. E, meus amigos, não parou por aí. Nobuhiro Watsuki, um autor de respeito que marcou gerações, simplesmente falou que agradecia imensamente ao Oda por ter renovado o espírito da Shonen Jump depois de Dragon Ball.

Na época de DB, a Jump batia recordes de vendas, com 6 milhões de tiragem semanal. Depois que Toryama finalizou sua história, alguns autores também conseguiram manter um pouco a atenção do público, mas não era mais a mesma coisa. Watsuki explicou que nem mesmo RK conseguiu bater Dragon Ball, e que ele acabou falhando como autor que deveria manter o legado dos veteranos (olha o nível da cobrança que um japonês faz a si mesmo!!). Porém o Oda conseguiu fazer isso com One Piece, que quando foi lançado, fez com que jovens do Japão todo tivesse interesse em ler a Jump novamente de forma assídua, que nem na época de Dragon Ball.

Então, depois da febre One Piece, vieram outros autores que tentaram estar no nível de One Piece, e isso foi bom, pois realmente o nível estava alto e não baixo! A concorrência precisava existir, a competição para se aproximar de One Piece fez autores quebrarem mais suas cabeças para apresentar uma boa história. O próprio Watsuki mesmo disse que com suas obras futuras, vai mirar One Piece como meta, pois ele é uma referência para qualquer mangaká da Shonen Jump!

Uma das capas de One Piece na Shonen Jump quando a história voltou da paralisação de dois meses depois do fim da guerra de Marineford

E essa “febre One Piece” da qual me refiro não se dá somente pelo mangá. Claro, as vendas estratosféricas de One Piece no Japão assusta qualquer um, é incrível que um mangá de 1997 consiga manter sempre vendas absurdas (são mais que boas, ótimas e excelentes!). A animação de OP é muito importante para as crianças, a Toei e o próprio Oda entendem que o boa parte do público que vê o animê no Japão são crianças. Isso mostra que One Piece consegue renovar seu público. O jovem que começou a ler lá em 1997, continua atualmente, e hoje tem crianças mais novas que a existência de OP que pegaram gosto pela história e vão acompanhar fielmente. Portanto, é até difícil pensar em um público coeso e fixo, pois OP possui fãs crianças, jovens e adultos. Eu mesma comecei a ler com 9 anos e hoje estou com 24!

Parando para analisar só o público, imagina então como não deve ser na cabeça do Oda para criar uma história que continue agradando a todas essas faixas etárias? Apesar de One Piece ser engraçado e ter as principais características de um “battle shonen”, ele também aborda questões mais pesadas e emocionais, que um adulto tem total clareza do quanto é sério, mas uma criança já não vai ter tanta identificação e um jovem prefira ver mais lutas e reviravoltas do que de fato algo mais complexo. A dificuldade de manter a atenção de todos deve ser imensa! Por isso mesmo o título deste texto é “fenômeno Eiichiro Oda”, esse assunto é algo a ser estudado de verdade!

De tantas histórias em quadrinhos japa que já li e o que acompanho no mercado editorial, é muito, mas muito difícil ter algum autor que consiga fazer o que o Oda consegue! De maneira alguma isso é demérito de outros autores, o Hiro Mashima⁴ é uma maquininha do diabo que já chegou a lançar 3 capítulos em uma semana, já fez dois mangás ao mesmo tempo (enquanto ele fazia Fairy Tail, ele fez Monster Hunter Orage) e ganha dinheiro demais. Assim como a Hiromi Arakawa que não bastou fazer sucesso com Fullmetal Alchemist, mas consegue fazer uma história como Gin no Saji e ir muito bem, obrigada. Enfim, exemplos não faltam.

Essa imagem do Luffy no New York Times é histórica!!

O que quero dizer é que One Piece, mesmo com concorrências pesadas de outros mangakás, histórias e revistas, se mantém no topo o tempo todo. Oda não perde fã, não perde muito na qualidade, não perde o rumo/objetivo da história, não perde a febre! One Piece não tem só o mangá e anime, tem evento que não acaba mais em Tóquio (Tokyo Tower é um exemplo), já apareceu no New York Times, tem restaurante inspirado no Baratie, tem especiais com Dragon Ball e Toriko, tem um Sunny em tamanho real para visitação, tem uma loja própria com todos os objetos e bugigangas que você imaginar⁵! E eu só tô citando o que eu lembro de cabeça, com certeza tem mais! Resumindo: japonês respira One Piece, principalmente Tóquio.

Focando na história, que autor consegue manter uma história (em revista shonen semanal, para ficar uma comparação justa) por quase 20 anos com tanta coesão como o Oda? A começar que é até difícil ver um autor que conseguiu ficar tantos anos com um mangá SEMANAL em publicação e não cair no ranking (na famosa TOC⁶). Naruto foi considerado o grande rival de One Piece, mas além dele…mesmo Gintama, que é também queridinho no Japão, não dá tanto para comparar. Basicamente, a gente conta nos dedos. É por isso que o Oda é uma figura admirável demais!

Me desculpem, eu não acho One Piece a perfeição na Terra, porém, não tem como não pagar pau pro Oda. O cara é um monstro que criou uma história que vai marcar gerações e gerações. A riqueza de referências vai de arquitetura, filmes, piratas verdadeiros, fenômenos climáticos, cultura japonesa, à atores japoneses! Sério, é muita referência!

        Achavam que Toriko seria um novo One Piece e aí fariam uma tríade. Ledo engano haha. Mas, Oda e o Shimabukuro-sensei são grandes amigos!

Seus personagens podem ser analisados e interpretados de diferentes maneiras. A geografia do mundo de One Piece é tão rica que cada saga pode ter um mangá próprio para explorar com mais detalhes o lugar, os personagens, a fauna/flora. A parte histórica de One Piece faz inúmeros fãs do mundo todo pensarem no que aconteceu na antiguidade (civilização antiga, Gorouseis, Século Perdido, poneglyphs etc). Em cada cantinho dá para por uma lupa e ver a história com um olhar diferenciado. A cada leitura você identifica algo novo. Inclusive, imaginem, mesmo se Oda terminar One Piece, ele pode fazer especiais sobre personagens secundários (assim como vai sair uma Light Novel do Ace que vai ser canônica) e viver pra sempre conectado com o universo de One Piece (mesmo que ele queira fazer um mangá de robôs também).

Enfim, precisei escrever sobre o Oda, ele merece todo o sucesso que tem. Oda quase nunca para de lançar One Piece, ainda participa de roteiros de filmes de One Piece, tem uma atenção incrível com os fãs que mandam as perguntas na SBS de cada volume do mangá. Claro, eu sou jornalista, sempre serei crítica com algo que eu acho que está em falta ou pecando em One Piece, mas…é preciso dizer: Oda é um homão da porra!

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¹: Ilustrador de várias obras de sucesso como Death Note, Bakuman, Hikaru no Go, All you need is Kill etc;
²: Hiroyuki Takei é autor de Shaman King e Shaman King Flowers;
³: Se quiser conhecer os assistentes do Oda, as informações mais atualizadas e que conseguimos ler fica no Baka-updates. Um dos assistentes do Oda publicou um mangá na Shonen Jump, inclusive. Haruto Ikezawa fez Kurogane, finalizado com 8 volumes.
⁴: Ao contrário do que muitos pensam, o Mashima NÃO foi assistente do Oda e nem foi do Watsuki. Sua história como mangaká, inclusive, é bem diferente do Oda e logo no início da carreira ele entregou suas ideias para a Shonen Magazine, e não para a Shonen Jump. Essa informação pode ser vista na edição 01 do mangá Mashima-En publicado pela JBC aqui no Brasil. Quanto à polêmica envolvendo as semelhanças de traços, se pegarmos a evolução do traço dos dois autores, veremos que é muito diferente. Fairy Tail foi lançado muitos anos depois de One Piece e no início tinha algumas semelhanças com o traço inicial do Oda, que com o tempo se perdeu. Gildartz talvez seja o único personagem que tenha de fato alguma referência à One Piece, o resto é especulação;
⁵:  Mugiwara Store é o paraíso para fãs de One Piece;
⁶: A sigla significa Table of Contents. Para saber um pouco mais sobre a TOC, recomendo lerem este artigo, mesmo que esteja meio datado (Weekly Shonen Jump ToC! Entenda o que é, como funciona!).