Formação dos Piratas Spade
Capítulo 1 - Página 25
Senti um choque tão forte como se um objeto contundente tivesse atingido meu crânio. Quando as pessoas falam de uma vergonha tão grande que os impede de olhar para a pessoa a qual erraram, é exatamente isso que elas querem dizer. Fiquei de cara no chão, e eu percebi que eu estava chorando. Eu tive que reprimir meus soluços para impedir Ace de ouvi-los.
Que coisa terrível eu estava pensando.
Simplesmente por ter o sangue de Roger em suas veias, eu presumi que Ace deveria ser uma pessoa má. Eu disse a mim mesmo que tudo o que eu fazia com ele se justificava por causa disso. Mas tudo que eu sabia sobre Roger vinha de papéis e livros. Eu nunca o conheci e conversei com ele. Eu apenas aceitei tudo o que a sociedade e outras pessoas disseram sobre ele e assumi que tudo era verdade.
Que maneira rasa e feia de pensar.
Percebi repentinamente: era exatamente esse o modo de pensar dos adultos que eu via quando era criança. Era algo que eu desprezava naquela época.
Os adultos zombavam de Brag Men e eram tendenciosos quanto ao livro.
Eu também fui tendencioso quanto ao Ace.
Desde quando eu me tornei um daqueles adultos desagradáveis e cínicos, que sempre tiram conclusões precipitadas?
Como era o verdadeiro Ace? Ele era o tipo de pessoa que compartilhava sua única comida com um homem faminto, quando ele próprio já estava morrendo de fome. Esse é o tipo de cara que Ace era. Esse foi o homem que herdou o sangue de Roger, Rei dos Piratas, assim como eu o conheci pessoalmente.
“E aí? Você não está com fome? Coma” – ele disse.
Eu funguei e disse: “Eu não posso…”
Eu estava envergonhado de mim mesmo. Eu não era digno de aceitar comida de Ace. Eu não era digno. Eu merecia passar fome e sofrer; essa era a única maneira de compensar o que eu quase fiz.
“Coma”, disse ele, ligeiramente irritado, e empurrou a fruta para mim.
“Eu não posso!” Eu disse teimosamente, balançando a cabeça.
“Por que não?! Eu sei que você está com fome. Não esconda.”
“Não posso, porque você também está com fome.” Eu protestei, meu tom de voz aumentou. Ele provavelmente sabia que eu estava chorando, agora. Ace pareceu um pouco preocupado e ficou em silêncio por um momento.
“Então vamos dividir. O que acha?” ele sugeriu. Antes que eu pudesse dar uma resposta, ele pegou sua faca e cortou a fruta em duas. “Pegue, eu comerei também. Mas você precisa de um pouco de fruta, cara.”
Ele me entregou uma das metades com um sorriso. Com uma oferta assim e a fruta bem na minha frente, desisti de recusar e a aceitei com gratidão.
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