A Estética de Skypiea ━ A Fantástica Fábrica de Inspirações do Oda

Por COMENTÁRIOS

Conseguimos observar que o Oda usou de muitas inspirações da vida real para construir a estética do arco de Skypiea, principalmente na construção de Shandora e dos Shandians. Sua fonte de inspiração foi principalmente indígenas das Américas, como da América do Norte e também da América Central.

Aldeia dos Shandians em Skypiea

☬ Totem Poles

Arte dos povos da costa noroeste dos EUA. Estacas, Totem Poles, esculpidas a partir de grandes árvores coníferas com símbolos e figuras. Caracterizam um tipo de arte dos povos indígenas da região da costa noroeste do Pacífico.

Entre esses povos estão: Haida, Tlingit, Tsimshian, Kwakwaka’wakw, Nuu-chah-nulth e comunidades do sudeste do Alaska, o Canadá até o noroeste da Califórnia nos EUA. Os que são mais citados são os Haida e os Kwakwaka’wakw.

A região da costa noroeste dos EUA era densamente populada por diversas tribos indígenas quando da chegada dos Europeus no continente.

Os Totem Poles eram construídos como uma espécie de tabuleta para se inscrever aspectos culturais daquelas pessoas. Desde a história e o registro de indivíduos, da família até músicas, danças, registros espirituais. Eles podem ser utilizados como memoriais e para contar histórias. Existem diversos tipos de Totem Poles, cada um com o seu propósito e função.

Muitos deles retratam criaturas, animais, que formam o brasão das famílias e representam a história daquela linhagem. Os animais que eram retratados eram por exemplo: castor, urso, lobo, tubarão, baleia, corvo, águia e rã. No topo do Totem Pole fica a imagem desse animal, que representa a identidade, enquanto no resto da madeira está a representação da história daquela família.

Na maior parte dos Totem Poles em Skypiea nós conseguimos ver no topo a representação de tipo uma águia. Imagino que essa tenha sido a escolha de Oda para representar esse maior protetor?

No flashback de Calgara e Norland vemos a importância das árvores como sagradas e que são receptáculos das almas dos ancestrais, e que são atraídas pelo sino para viverem nelas. Bem, os Totem Poles são feitos de madeira também, então a relação entre esses objetos sagrados e as árvores é muito significativa. A parte simbólica e espiritual no arco, representada em sua arte e cultura é muito presente!

☬ Tipi/ Teepee

Moradias em formato de cone, muito características de povos indígenas das planícies do Canadá, como os Siksikaitsitapi, os Cree, Ojibwe, Assiniboine e Dakota.

Um tipo de abrigo feito de estacas de madeira e um estilo de coberta feita com pele de bisão e com pinturas. Esses abrigos eram importantes para os povos das planícies, por exemplo em suas viagens, tanto para caça, reuniões sociais, como a realização da Dança do Sol, ou para se abrigar no inverno. Para tal função então precisavam de um abrigo que pudesse ser facilmente montado e desmontado. Portanto, eles desenvolveram um tipo único de casa portátil, perfeitamente adaptado para um estilo de vida nômade.

Isso é bem interessante se pensarmos que no flashback de Calgara vemos um estilo de habitação completamente diferente, de casas maiores e fixas. Mas quando vemos, no presente, a aldeia dos Shandians, aí sim temos esse estilo de habitação móvel, Tipi. Podemos interpretar que talvez eles estavam prontos para se mudarem a qualquer momento, já que aquela terra em que estavam não era deles, a sua busca era em recuperar Upper Yard, portanto até hoje não haviam desenvolvido um tipo de habitação mais fixa na aldeia. Será que isso faz sentido? Seria muito muito impactante, bonito e interessante, considerando toda a trajetória deles que acompanhamos ao longo do arco. E, ao fim do arco, será que veremos um novo tipo de habitação, já que encontraram sua terra?

Além disso, existe um significado simbólico e espiritual nos Tipis. O chão da tipi encarna a terra, a Mãe, enquanto a sua cobertura encarna o céu, ou o Pai. As estacas da habitação, então, conectam a terra e o céu, permitindo um caminho em que as orações das pessoas pudessem alcançar o céu.

Apenas algumas das Tipi eram ilustradas com imagens, transformando-as em cabanas sagradas associadas com alguns rituais específicos. Seguindo o significado espiritual e simbólico, as pinturas na base dela representavam a terra e coisas pertencentes a ela, enquanto pinturas no topo representavam o céu e o mundo espiritual. Entre a base e o topo eram representados elementos do mundo terreno ou do outro plano, em que o principal ocupante ou o seu ancestral direto entrou durante uma visão. Poderiam ser desde façanhas humanas até criaturas sobrenaturais e que transmitiam poderes para o primeiro dono da visão. Essas pinturas eram passadas de geração em geração.

O altar de Upper Yard

☬ El Dorado e os Muisca

Para a inspiração de Shandora conseguimos encontrar duas referências que podem ter sido utilizadas por Oda como inspiração. A lenda de El Dorado, do povo Muisca, e também das ruínas da antiga civilização Maia.

A lenda de El Dorado está relacionada ao povo Muisca, localizado na Colômbia. Ao contrário do que imaginamos atualmente, de que El Dorado representa a lenda de uma grande cidade de ouro, na verdade o termo foi utilizado pelos espanhóis no século XVI para descrever o zipa, chefe tribal do povo Muisca. Em um ritual de iniciação, o zipa era coberto de ouro e submergido no lago Guatavita, no centro dele. Ali, ele jogava uma grande quantidade de objetos de ouro.

O Lago Guatavita, localizado a nordeste de Bogotá, é apontado como a origem da lenda de El Dorado. Vendo a imagem do lago e o seu formato, lembra muito o formato que Oda colocou para a entrada do Deus Kashigami em formato de serpente, no mangá, no momento do flashback em que iria acontecer o ritual de sacrifício de Mousse, filha de Calgara.

As serpentes eram muito frequentes entre os animais que os Muisca representavam em sua arte, em “tunjos”, como oferendas. Essas serpentes eram frequentemente mostradas tendo cabeças com bigodes, assim como Kashigami, e se acreditava que os lagos eram habitados por deuses ancestrais na forma dessas serpentes e que exigiam oferendas.

Exatamente um desses famosos rituais em que os “tunjos” eram colocados como oferendas é o que acontecia no Lago Guatavita e que deu origem a lenda de El Dorado.

Ao longo dos anos após a conquista da região pelos espanhóis, houve várias tentativas de capturar o ouro no fundo do lago Guatavita. A montanha de um lado do lago foi afetada por conta dessa movimentação, porém a região central do lago permaneceu intocada. Isso me remeteu muito à forma como o altar em Upper Yard, central do lago, permaneceu intocado e além de tudo foi apropriado por Enel.

Shandora, a cidade de ouro

☬ Chichen Itza e as cidades Maias

Sabemos que a lenda de El Dorado foi se desenvolvendo até chegar na imagem de um império ou uma cidade mítica de ouro, apesar de sua origem ser o ritual Muisca. Por conta dessa mudança ao longo do tempo, a imagem que temos de El Dorado na nossa cabeça, de sua arquitetura, e que associamos normalmente, está relacionada com as grandes cidades Maias e Astecas.

A grande cidade de ouro, Shandora, poderia ser facilmente associada com a Chichen Itza, grande cidade Maia, localizada em Yucatán, no México. Ela foi uma das maiores cidades Maias. Além de possuir estilos arquitetônicos muito parecidos com o que foi desenvolvido por Oda. O seu principal edifício é o Templo de Kukulkan, que é dedicado a uma divindade que toma forma de serpente. Para os Astecas, o nome dessa divindade é Quetzalcoatl. Na escadaria do prédio, do topo até a base, podemos ver uma forma de serpente descendo, que é bem interessante, com a cabeça de serpente na base. Isso me fez pensar ainda mais na escolha de Oda da Serpente para representar a divindade dos Shandians. Outros edifícios da Chichen Itza lembram muito a arquitetura utilizada para a Cidade de Ouro.

Além da Chichen Itza, outras cidades Maias possuem esse tipo de arquitetura, como Uxmal, Tikal e Palenque, por exemplo.

A imagem da serpente é também muito importante como símbolo religioso para a cultura Maia. Elas eram consideradas como um canal em que os corpos celestes, como o sol, cruzam o céu. Como dito anteriormente, também uma das principais divindades era representada por uma serpente, a Quetzalcoaltl ou Kukulkan. Quetzalcoaltl é o está associado com o vento, o planeta Vênus, o amanhecer (Dawn), as artes e o conhecimento.

Skypiea e a Ilha dos Anjos

☬ Skypieans e Birkans

Além das inspirações da vida real para a construção de Shandora e dos Shandians, o Oda fez um trabalho excepcional para a construção das ilhas do céu. Nesse arco temos muitos painéis incríveis e muito bem desenhados, que passam uma sensação de algo novo e de impacto. No capítulo 239 quando os Mugiwaras chegam na Ilha do Céu temos um painel que mostra toda a ilha.

Nesse único painel de início nós já conseguimos ver um pouco da organização da ilha e toda a ideia que o Oda quer passar de um lugar devotado a Deus, como já havíamos tido uma pista na introdução/entrada. Temos as casas e a ilha, mais desenvolvida na parte da base, e subindo cada vez mais temos uma arquitetura que lembra muito a de uma igreja ou um castelo. E aí lá no topo temos uma construção solitária e grandiosa, que dá a sensação de estar acima de tudo. O interessante é que ela não se assemelha a uma igreja católica, que nem a de baixo, mas ela que está acima. Se temos uma Ilha no Céu, a terra de Deus, e temos uma construção solitária no topo da ilha, isso talvez seja mais uma dica do Oda nessa construção estética e logo no começo do arco.

Quando Upper Yard aparece, já dá pra ter um choque de realidade, já que é uma região de floresta densa, cheia de árvores enormes. E já dá a sensação de que tem algo de errado e uma coisa não pertence a outra.

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