Reverie OPEX #43

O mundo político de One Piece

Por Pah~ 5 de dezembro de 2017 COMENTÁRIOS

E aí pessoal, desculpem todo o sumiço com o Reverie, tenho falado sobre essa ausência no meu Twitter (quem quiser seguir, tamos ae). Mas basicamente fui diagnosticada com uma doença meio chata e tive que dar uma cuidada nisso primeiro para voltar com tudo depois. E eis que temos de volta mais um Reverie OPEX! Se sosseguem em um cantinho e bora embarcar em mais uma discussão sobre One Piece.

Esse é mais um Reverie diferente dos outros, mais com uma pegada reflexiva e com poucos links externos. Aos que se lembram, teve um Opexcast sobre justiça em que falamos principalmente do Governo Mundial/Tenryuubitos, Reis e Rainhas e Revolucionários. Ouvindo o cast vocês vão ver que tentamos chegar em algum consenso quanto ao poderio do Governo Mundial e quais são seus objetivos. Pois é, a questão é que até agora não sabemos bem que tipo de papel ele quer exercer. E esse será o papel central desse Reverie.

O mundo político de One Piece não foi exatamente construído de forma sólida pelo Oda, o que faz a gente embarcar em diversas discussões. Mas na própria discussão feita no cast de justiça, todos concordaram que o Governo Mundial/Marinha exerce um regime totalitário. Apesar da Marinha destoar um pouco desse termo, ainda assim, com as mãos de ferro de Akainu, a voz dos mais ditadores estarão mais presentes. Sempre vão existir algumas exceções (Smoker, Tashigi, Fujitora, Coby etc), mas no geral, a Marinha ainda aceita a imposição do GM e trabalha para proteger um sistema opressor, corrupto e bem desigual.

E por que ele é corrupto, opressor e desigual? Bem, podemos lembrar do que fizeram aos civis de Ohara. Simplesmente mataram todos que eram ou não arqueólogos, tudo porque o Governo Mundial temia que os conhecimentos desse lugar fossem propagados para outros lugares, calando qualquer historiador sério e ético. Navios de Guerra da Marinha mataram pessoas a sangue frio por causa de uma imposição do Governo Mundial. Aokiji se manteve calado, Garp e Sengoku estavam ativos na Marinha nessa época. Nem um pio se ouviu deles. É como se um exército de um país chegasse aos estudantes de história da sua nação e simplesmente matassem eles pelo conhecimento que detém. Isso por acaso é algo justo e limpo? Não houve uma justiça, houve uma matança. Se houvesse justiça, todos seriam julgados por uma corte, como foi Tom-san. Bem, o próprio caso de Tom-san é uma afronta ao que se prega a justiça, não é mesmo?

Tom-san foi pego por causa de uma sabotagem de um membro conhecido por todos: Spandam. Ele seria solto, seria declarado inocente. E ele estava sendo culpado por construir o barco de Roger, que não sabemos se ele estava perto ou não de ser Rei dos Piratas e nem teria como Tom saber que um pirata se tornaria o mais conhecido do mundo (talvez torcia para isso, mas mesmo assim as alegações eram bem vagas). Sem contar que ele construiu o trem marítimo, que mudou a vida de todos e provou que ele só faz o papel dele: construir meios de transporte. Se fosse pra culpar alguém, todos os carpinteiros da Galley-la seriam presos por construírem barcos para piratas. Não é o caso. Bom, a questão é que ele ia acabar inocente nessa história toda se não fosse o Spandam. Um cara de onde? Sim, do Governo! O Governo que deveria pregar a justiça, mas que prega tudo, menos a justiça.

Também já falei sobre as Cipher Pols, que mais trabalham para manter o totalitarismo do Governo Mundial do que para equilibrar e trazer qualquer tipo de igualdade entre os povos. Um Reverie totalmente dedicado a isso, mostrando que são os grupos mais corruptos de todos, mais que a Marinha.

O GM funciona através de uma aliança com reinos, que vivem na monarquia ainda. Dos Reis que conhecemos, Rei Riku, Rei Cobra e Rei Elizabelo tentam (difícil dizer se funciona 100%) fazer um governo justo e igual para todos, mas temos um exemplo de mais um governo totalitarista e ditador nas mãos de Wapol, que talvez seja o governante mais safado e sem escrúpulos que conhecemos. O GM não se interessa por locais longínquos e cidades como Water Seven, mas se diz um governo soberano, implacável, como se fosse a única forma do mundo funcionar, ignorando que Wano e Zou não vivem sob as rédeas do Governo Mundial e são extremamente ricos historicamente falando. Aliás, depender do Governo Mundial é que os reinos menos fazem, por que Rei Riku tomou um golpe de Estado e o GM nada fez. Crocodile tocou o puteiro em Alabasta e nem ajudar o reino a se reerguer fez, botou tudo pra baixo do pano e deu promoção ao Smoker. O GM não possui um grupo de apaziguadores, algo próximo de uma ONU em One Piece. O GM sequer tem um grupo específico para lidar com problemas políticos em outros reinos. Só existem as CPs para manter o status de soberania do GM. Todos os indicativos mostram que o GM aplica um totalitarismo genérico, talvez não tão funcional, mas as intenções sempre serão de manter as coisas como estão, sem ninguém descobrindo nada sobre eles. Se for matar para isso se manter, eles farão. É uma Ditadura escancarada.

Então até agora não sabemos se o GM só quer manter isso tudo como está apenas pelo poder e pelos privilégios. Se eles querem esconder algo como o Século Perdido, podem também ter outros objetivos, coisa que devemos saber quando o Oda revelar mais coisas a respeito dos Gorouseis e dos Tenryuubitos. Antes disso ficamos apenas aqui, discutindo que o GM é na verdade uma corporação bem filha da puta. Eles levantam a bandeira de evitar a pirataria anarquista, mas além de não conseguir exterminá-los, dão mais motivos para grupos e pessoas irem contra eles, pois o governo que fazem é catastrófico de diversas formas.

Numa situação caótica que o GM criou, é natural que alguns grupos do outro lado da moeda apareçam. Sim, tem os Revolucionários, mas tem também outras pessoas questionando as ações do GM. Luffy foi um deles, sem muito jogo político envolvido, mais como libertário do que qualquer outra coisa em Enies Lobby. O Rei Cobra está querendo ir ao Reverie pra botar a boca no trombone e entender mais sobre o passado. A própria Robin tem um sangue revolucionário dentro dela, não só querendo saber a verdade, como também com faíscas de alguém que quer derrubar esse GM corrupto e sacana.

A Marinha possui marinheiros que querem mudar as coisas como Smoker e Coby, e podemos até mesmo relembrar o marinheiro que ficou como capitão do QG de Shells Town, no lugar de Morgan. Mas a alta cúpula da Marinha ainda é bastante entreguista, digamos assim, ainda aceita muita coisa do GM. Acaba se tornando uma força passiva, sem jogo político, sem questionamentos. No fim, uma organização que deveria ser para o bem da população, é mais um antro de privilégios, com pessoas fazendo negociatas, sendo espiãs (Vergo), e trabalhando por interesses próprios bem mesquinhos.

Simplesmente não há maneiras de defender integralmente a Marinha, e nem há como dar aval para o GM fazer o que faz. Está tudo errado! Por isso grupos como os Revolucionários surgem para bagunçar tudo. É o outro lado da corda, talvez igualmente extrema, mas infelizmente necessária.

Esse Reverie não é para dizer que os Revolucionários tão certos, mas sim para dizer que suas causas fazem sentido em meio ao um caos que o próprio GM criou com o passar dos tempos. A população não é ajudada de nenhum dos lados, e ainda fica sob tutela de piratas que podem ter um milhão de facetas, nenhuma muito confiável. Pessoas que conseguem enxergar que mudanças drásticas são necessárias vão procurar por outras pessoas que pensem o mesmo. E daí isso também pode ser extremo. Os Revolucionários podem fazer sentido, mas podem ser extremos. Podem ser radicais a um nível complicado.

Mas aí eu me lembro de uma personagem. Koala. Por quais motivos será que ela entrou para os Revolucionários? Sabemos de seu passado (leiam de novo se puderem, eu mesma chorei litros só de linkar a história aqui). Sabemos que era uma escrava dos Tenryuubitos, sabemos que ficou traumatizada, que acabou entrando no barco do Fisher Tiger sem muitas opções. Mas ela é o maior exemplo de pessoa que viveu os dois lados. Viveu com humanos, viveu com tritões. Ela queria voltar pra sua família, mas acabou criando uma segunda família. Sim, os tritões. E conhecendo os tritões, seu preconceito acabou. E os tritões, por outro lado, puderem ter um exemplo de pessoa humana boa, inocente. Koala é uma das pessoas que viveu o dilema de ou ficar estática e viver num mundo como o GM quer ou tentar mudá-lo. E ela decidiu mudá-lo. Ela não parece ser extrema. Isso também não quer dizer que todos os integrantes dos Revolucionários não são extremos. Mas a Koala é um exemplo muito bom de que a motivação é para mudar algo pra melhor.

Talvez é pelos Revolucionários que a mudança virá. Se imaginem vivendo em um mundo como o de One Piece. Você tem uma certa escolaridade, tem certos conhecimentos que certas pessoas não tem, como a própria Koala. Você se vê diante desse dilema, de ver que a Marinha e o GM não ajudam em nada, mas deveriam ajudar. Que lado você escolheria? De verdade? Eu mesma me simpatizo com a ideia de fazer parte de um grupo que quer mudar as coisas. É preciso muita inteligência e muita frieza para não cair na tentação que é o radicalismo nessas horas, mas aí que os laços entre os Revolucionários têm de surgir. Eles querem fazer isso para tomar o poder ou para melhorar a vida das pessoas? Ainda é difícil saber exatamente o que querem, mas vejo uma vontade sincera de querer mudar as coisas. E pra melhor. Então é preferível serem chamados de rebeldes, de baderneiros, vagabundos do que manter as coisas como estão.

Eles não são mocinhos, não há mocinhos em One Piece ao meu ver. Mas existem lados diferentes. Existe quem prefere modificar as coisas sob a tutela da Marinha, outros que preferem ser livres, como os piratas vivem, e existe quem prefere mudar tudo, começando pelo sistema, como os Revolucionários. Qual lado você escolheria?

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