Primeiramente, é importante falar do evento que me fez acreditar nisso: o Reverie.

Tal reunião pretende passar a ideia de que todos os reinos estão em pé de igualdade para poderem apresentar suas propostas e problemas, assim como ocorre na Assembleia Geral da ONU, um ambiente de diálogo entre todos os Estados-membros da organização. Contudo, analisemos a palavra rêverie; o dicionário francês Larousse nos mostra a tradução devaneio, além de uma outra ainda melhor: utopia.

Assim como países do sul global não têm o mesmo poder de influência quando comparados aos desenvolvidos, não há equilíbrio entre as famílias que são membros do governo mundial na tomada de decisões, o que desmente a simbologia do Trono Vazio. Os interesses de alguns poucos são mais relevantes, ou melhor, convenientes, e, por isso, se sobressaem.

Duas observações importantes antes de continuarmos:

Agora, devemos sair da Assembleia Geral e partir para o Conselho de Segurança das Nações Unidas: aqui os países discutem paz e segurança. Sim, estamos falando de operações militares, de interferência na soberania de outras nações, algo extremamente significativo para qualquer Estado atualmente.

Esse órgão está repleto de críticas, afinal, além dos integrantes rotativos, há cinco países fixos com poder de veto:

China – que entrou na década de 70, auge da Guerra Fria -, Rússia – substituindo a antiga União Soviética -, Reino Unido, EUA e França. Esses quatro últimos, como puderam perceber, são os vencedores da Segunda Guerra. Sabe qual o perigo desse poder de veto? Uma vez que o órgão emite decisões que devem ser seguidas por todos os membros e que envolvem ações bélicas, isso nos coloca na mão de cinco nações.

Aqui há claramente uma hierarquia.

O Conselho de Segurança tem sua origem intimamente relacionada aos acontecimentos e resultados da Segunda Guerra, e não são raras as referências a esse momento triste da história mundial na literatura, no cinema, nas artes em geral. Normalmente, são feitas pontualmente, outras, de forma irresponsável, mas é inegável o fato que acontece.

Digo isso porque há ainda outro motivo para acreditar nos Gorousei como representação dos membros permanentes: a câmara do Conselho de Segurança. Compare-a com a do Reverie, a partir das duas imagens acima.

A pintura na parede é uma Fênix e remete ao renascimento, à nova ordem mundial após os desastres da Guerra.

Agora olhe aquela figura na parede do Reverie: o símbolo do Governo Mundial, a nova ordem depois do Século Perdido.

Não, não estou fazendo paralelos históricos, longe de mim! Não acredito que o Oda agiria de forma tão irresponsável para fazê-lo, mas talvez tenha se inspirado.

“Elisa, você está falando muito de política, não acho que o Oda se ligue nessas questões”.
Será mesmo?

Pra finalizar, sabia que se questiona muito atualmente o fato de dois países super influentes, ricos e desenvolvidos não serem membros permanentes do Conselho de Segurança? Justamente dois dos perdedores da Segunda Guerra: Alemanha e Japão. Ambos mudaram em muitos aspectos após a tragédia da primeira metade do século XX. A Constituição japonesa não permite que o país declare guerra ou que mantenha forças armadas, pelo contrário, somente um exército de autodefesa.

Vemos na imagem uma manifestação japonesa em 2015 contra uma reforma na legislação que objetivava aumentar a militarização do país. Podemos ver que o apoio popular à Constituição pacifista é significativo.

Interessante, não é? Então leiam esse trecho de uma entrevista antiga do Oda:

“Um dos jornalistas perguntou, sabendo que o Oda gosta de fazer trocadilhos com palavras, se a palavra One Piece seria ‘Won Peace’ (Paz Vencida, Conquistada), e se isso seria o final de One Piece, que o grande tesouro do final do anime seria a conquista da ‘Paz Mundial’. Oda sorriu e disse: ‘O nome One Piece realmente está conectado com o final do anime, …mas eu não posso dizer o verdadeiro motivo, porque perderia o propósito.’”

E você? Ainda acha que One Piece não tem nada a ver com política?